Psicologia, Psicoterapia e Estigma Sociocultural

Ana Almeida

Penso que será uma opinião de consenso dizer que não há qualquer dúvida de que actualmente em Portugal ainda existe um forte estigma associado às consultas de psicologia e, ainda mais intenso, associado às consultas de psiquiatria e de psicoterapia. Nas grandes cidades este estigma é menos limitador da procura de um psicólogo porque cada indivíduo está centrado sobre si próprio e pouco ou nada olha para o vizinho; mas nas cidades mais pequenas e, principalmente, nas vilas, assumir a necessidade de pedir ajuda a um psicólogo ainda é visto como sinónimo de que não se está bem da cabeça e o rótulo “doente mental” fica colado à pele. O peso do estigma é tanto maior quando a idade aumenta.

 

 A procura de psicólogos para ajudarem as crianças nas mais diversas problemáticas é relativamente frequente e quase não pesa, nem para as crianças nem para os pais. Mais ainda, levar um filho ao psicólogo e criar as condições para que ele faça uma psicoterapia é indicador de sermos pais atentos e preocupados com o bem-estar físico e psicológico dos nossos filhos. Quando o filho é adolescente ou pré-adolescente, as coisas já se complicam um pouco mais. O próprio adolescente sente que ir ao psicólogo é estigmatizante perante os seus amigos e colegas e os pais começam a ficar aflitos, não vá o miúdo ir para lá dizer umas coisas que nós até preferíamos que ninguém soubesse.

 

Quando entramos na idade adulta, abre-se a possibilidade de irmos ao psicólogo sem ninguém saber e isso é bom; mas poucas pessoas fazem uso dessa oportunidade. Em primeiro lugar, parece-me, porque é pouco prático; a regularidade das consultas, sempre no mesmo dia da semana e à mesma hora, gera suspeitas nos amigos e familiares e, então, a pessoa lá se sente “obrigada” a ter que dizer e depois lá vem o estigma. Os mais velhos, homens e mulheres maduros, acham “quase” humilhante irem para um psicólogo falar da vida deles. Sentem que já têm idade para “terem juízo” e não andarem com “choraminguices”.

 

Quando se tem mais de 50 anos, ir ao psicólogo pode ser um verdadeiro desafio; é assumir que se tem problemas e que de alguma forma somos incapazes de os resolver sozinhos. Assumir perante quem? Perante nós mesmos e perante o psicólogo e isso não é nada fácil.

 

Chegará o tempo em que qualquer pessoa, independentemente da sua idade ou dificuldade, poderá ver num psicólogo, um parceiro na investigação da sua própria personalidade e apenas isso. Não um professor ou um sábio. Não um disciplinador ou um confidente. Um parceiro nesta tarefa complicada que é apreender a viver e descobrirmo-nos a nós próprios.