A perturbação paranóide de personalidade pode ser considerada das mais graves perturbações de personalidade. Podem existir pessoas com personalidades paranóides que apresentem um alto nível de funcionamento social, contudo raramente procuram ajuda devido ao enorme problema em torno da capacidade de confiar.
A psicologia paranóide caracteriza-se por afetos, impulsos e ideias internamente intoleráveis, sujeitos a dissociação e atribuídos às outras pessoas, cuja presença ou imagem passa então a suscitar sentimentos de medo e/ou de indignação.
Quando a hostilidade é projetada, a fantasia paranóide é a de se ser perseguido(a) por outros hostis. No caso da dependência projetada, a fantasia será a de alguém ter deliberadamente tornado a própria pessoa dependente, de forma humilhante. No caso da projeção da atração, surge a convicção paranóide de que outros têm intenções sexuais em relação à própria pessoa (erotomania) ou em relação às pessoas a quem a própria pessoa está vinculada (delírio de ciúmes). Outros afetos dolorosos podem também ser projetados, tais como o ódio, a inveja, a vergonha, o desprezo, o nojo, ou o medo.
As histórias de vida das pessoas que sofrem de perturbações paranóides de personalidade estão marcadas por sentimentos de vergonha e situações de humilhação. Assim, a expetativa social destas pessoas é a de serem humilhadas pelos demais, pelo que podem elas mesmo passar ao ataque sem qualquer provocação aparente, de modo a se livrarem da agonia da espera pelo ataque inevitável do exterior. Esta mesma expetativa é responsável pelas atitudes de suspeita e hipervigilância que caracterizam as perturbações paranóides. Infelizmente a atitude tende também a evocar as tão receadas respostas de humilhação.
O poder, nomeadamente o poder persecutório dos demais ou o poder megalómano do próprio, é o tema que motiva toda a organização defensiva da personalidade paranóide. Alguns relatórios clínicos sugerem também que as pessoas que sofrem de personalidade paranóide ao longo dos anos formativos sentiram um dos progenitores enquanto sedutor ou manipulativo. Assim, estas permanencem ao longo da vida alerta para o perigo de serem exploradas de formas sedutoras pelo terapeuta ou por outras pessoas.
Há portanto um conflito interno intenso nas personalidades paranóides, nomeadamente entre o pânico quando estão sozinhas - o medo de serem feridas por um ataque inesperado e/ou o medo de que as suas fantasias destrutivas firam ou já tenham ferido os demais) - e a ansiedade quando em relações - o medo de serem usados e destruídos pelas intenções ocultas dos outros.
As pessoas com perturbações paranóides tendem a ter problema em perceber a diferença entre os seus pensamentos e as suas ações, um problema possivelmente reforçado durante os primeiros anos de vida aquando de atitudes de crítica ou humilhação dirigidas nomeadamente às atitudes da criança em vez de dirigidas aos comportamentos.
Preocupação/tensão central: Atacar/ser atacado por outros que procuram humilhar
Afetos centrais: Medo, raiva, vergonha, desprezo
Crença patogénica característica sobre si próprio(a): O ódio, a agressão e a dependência são perigosos
Crença patogénica sobre os outros: O mundo está cheio de potenciais agressores e de pessoas que usam os demais