Pode ser feita a distinção entre uma perturbação narcísica de personalidade de nível mais neurótico e de nível mais borderline (mais grave). No primeiro nível a pessoa narcísica pode ser socialmente apropriada, bem-sucedida, charmosa e, ainda que algo deficitária na capacidade para a intimidade, razoavelmente bem adaptada às suas circunstâncias familiares, de trabalho e interesses. Em contraste, no segundo e mais grave nível, a pessoa narcísica sofre de uma clara difusão de identidade, falta de um sentido consistente de moralidade internamente direcionada, e pode comportar-se de formas altamente destrutivas.
A experiência interna subjetiva das pessoas narcísicas é o sentimento de vazio e ausência de sentido, que requer infusões frequentes de confirmação externa da importância e do valor delas próprias enquanto pessoas. Quando conseguem este objetivo, através de estatuto, admiração, riqueza e sucesso, sentem como que uma elevação interna, comportando-se frequentemente de forma grandiosa e tratando os outros (especialmente aqueles percebidos como pertencendo a um estatuto inferior) com desprezo.
Quando o ambiente não consegue corresponder a estas necessidades de validação, a pessoa narcísica sente-se tipicamente deprimida, envergonhada e invejosa daqueles que conseguiram os recursos que a elas lhes falta. São pessoas que sofrem de uma grande dificuldade em sentir prazer no trabalho e na vida amorosa.
Algumas pessoas que sofrem de perturbações narcísicas podem ser menos sucedidas mas ao mesmo tempo estar preocupadas com fantasias de grandiosidade. Outras podem procurar a psicoterapia para que o terapeuta lhes ensine a serem populares, "normais" ou terem aquilo que as outras pessoas mais afortunadas têm.
As perturbações narcísicas muitas vezes sujem de mão dada com as preocupações hipocondríacas (preocupações persistentes com o medo de ter ou contrair doenças) e a tendência a somatizar (expressão corporal de problemas emocionais). Esta é uma tendência cuja literatura clínica aponta estar relacionada com o desinvestimento de ligações emocionais e investimento na própria integridade física durante a infância, à custa de terem sido vividos vínculos com cuidadores pouco gratificantes ou cheios de segundas intenções.
A perturbação narcísica obriga a que uma dada pessoa despenda quantidades consideráveis de energia na avaliação do seu estatuto em comparação ao estatuto das outras pessoas. A autoestima é defendida por meio de uma combinação de idealização e desvalorização dos demais. Quando idealizam alguém, sentem-se mais especiais e importantes por virtude da associação com essa pessoa. Quando desvalorizam alguém, sentem-se superiores.
As pessoas com patologia narcísica tendem a ser mais fáceis de ajudar a meio da vida ou depois, quando o investimento narcísico na beleza, fama, riqueza e poder foi frustrado e quando se deparam com limites realistas à grandiosidade. As queixas que tendem a trazer os pacientes narcísicos à psicoterapia por esta altura são nomeadamente três: sentimento de vazio, perda da capacidade de amar e sentimento de se ter destruído a vida de outra(s) pessoa(s).
Preocupação/tensão central: Inflação/deflação da autoestima
Afetos centrais: Vergonha, desprezo, inveja
Crença patogénica característica sobre si próprio(a): Preciso ser perfeito(a) para estar bem
Crença patogénica sobre os outros: Os outros usufruem de riqueza, beleza, poder, e fama; quanto mais disso tiver, melhor me sentirei
Subtipos:
Arrogante/Detentor de privilégios ("entitlement")
Comporta-se a partir de um sentido declarado de ser detentor de direitos especiais ou privilégios, desvaloriza a maior parte das pessoas, impacta enquanto alguém superficial e manipulativo, ou carismático e dominante.
Deprimido/Esvaziado
Comporta-se de forma agradável (como quem procura agradar ou cair nas graças de alguém), procura pessoas para idealizar, é facilmente ferido, e sente inveja crónica dos outros quando percebidos em posições superiores.