Mobbing/Psicoterrorismo

Clara Pracana

Mobbing: Uma Introdução  (Tânia Paias) 

Bullying, cyberbullying, bullying homofóbico, mobbing. 

Muitos são os desígnios de um sub-tipo de violência comum a todos estes termos - a pressão psicológica, a ofensa, as ameaças... 

Tal como no Bullying, este não é um conceito novo, apenas ganhou projeção nas últimas décadas e entre nós. 

Mobbing deriva do inglês " to mob" que significa agredir. É um tipo de pressão psicológica que ocorre em âmbito laboral e que tem com objectivo principal diminuir as capacidades do trabalhador. 

Este tipo de violência é perpetuado em meio laboral por meio de palavras, ações, exposição a situações difíceis, nas quais o trabalhador é humilhado, ridicularizado nas suas funções e capacidades. 

Este termo foi proposto pela primeira vez por Konrad Lorenz em contexto etológico no decurso de estudos efectuados com gansos e gaivotas. Neste contexto o mobbing define-se como um ataque colectivo a um alvo considerado perigoso, normalmente um predador. Este ataque é levado a cabo por vocalizações e ameaças à distância, com o objectivo de confundir o predador. Nalgumas espécies este ataque inclui também defecar e vomitar na vítima. 

Na década de 80 este termo foi popularizado por Heinz Leymann, considerado o pai do mobbing, que adoptou este conceito da etologia e relacionou-o com a conduta humana nas organizações laborais. 

Para se falar em Mobbing vários comportamentos/ataques têm que estar presentes: ataque à vítima; às suas relações sociais; à sua vida privada; às suas atitudes; à sua reputação. 

Como causas podemos encontrar falta de liderança, inveja, stress, ciúmes... 

Como consequências podemos observar uma diminuição na capacidade laboral (certos estudos remetem para uma diminuição na ordem dos 70%), sintomatologia psicossomática tais como dores de cabeça, taquicárdia, gastrites... 

Os efeitos desta pressão psicológica são devastadores para a vítima, conduzindo, em casos extremos a baixas sucessivas ou à demissão. 

Este é um flagelo que não se circunscreve apenas em termos laborais, uma vez que as suas repercussões acabam por se fazer sentir no ambiente familiar (maior nervosismo. stress constante, depressão...) 

 

Culpa e dinâmicas de mobbing/psicoterrorismo nas empresas (Clara Pracana) 

Chefes sádicos que aproveitam uma fragilidade de um colaborador para o massacrar e intimidar, muitas vezes recorrendo à humilhação pública, colegas que fazem verdadeiras campanhas de má língua para conseguiram a exclusão da vítima escolhida. A crueldade humana não conhece limites, já o sabemos. Nesta forma de Bullying, é frequente as pessoa serem atacadas até por questões de aparência física, por exemplo, e que nada têm a ver com o seu desempenho profissional. No entanto, este tipo de fenómenos parece ter tendência a aumentar em situações de crise económica, em que o espetro do desemprego é habilmente utilizado pelo(a) agressor(a). 

O curioso é que as vítimas são normalmente pessoas competentes profissionalmente. Perfeccionistas e inseguras, muitas vezes, os ataques de que são vítimas tem ressonâncias internas dolorosas e que lhes retiram a capacidade de resposta em relação ao agressor. Quase que se sentem culpadas por estarem a ser agredidas. 

Uma pessoa deprimida e com falta de auto-estima é uma vítima potencial para os sádicos e predadores que por aí se movem. É, assim, necessário que a vítima perceba que não está condenada a ser vítima, e que a agressividade natural de cada um tem de ser dirigida para quem nos agride, e não para dentro. Isto parece uma verdade de La Palisse, mas é frequente encontrar pessoas que não imaginam sequer (ou não ousam imaginar) o impacto que pode ter uma alteração de postura. A vida é feita de interacções e há todo um código de sinais e de posturas que fala por nós. Na vida profissional, em particular, convém estar muito atento. Não alimentando paranóias, mas com assertividade e firmeza. Deixemos o dar da outra face para os seres excepcionais (se é que existem). 

A gestão da culpa é outra questão essencial e que é essencial saber gerir: a vítima do psicoterrorismo costuma até culpabilizar-se pelo mal que lhe é feito e fica paralisada como a mosca que cai na teia da aranha. 

O ambiênte “macho” (Clara Pracana) 

O Prof. Cary Cooper, da universidade de Leicester, afirma que trabalhar num ambiente "macho", de intimidação (bullying) e manipulador aumenta a:      

- ansiedade;
- depressão;
- perda da auto-estima;
- tendência para a auto-culpabilização
- sentimento de impotência

Esta coisa do ambiente "macho" pode parecer esquisita, mas é uma realidade. Sabem aqueles locais de trabalho em que as piadolas menorizam a imagem das mulheres, reduzem o sexo a uma macacada e permitem a uns quantos imbecis darem-se ares de machões? É a esses ambientes que o Prof. Cary Cooper se refere. E isto é em Inglaterra...

No ambiente que actualmente se vive, com o espectro do desemprego a pairar, suspeito que as tendências manipulatórias estão em alta. Não quero aqui insinuar que todos os chefes são uns sádicos à solta. É evidente que não, e que a maior parte deles está em situação de alta pressão por parte das próprias chefias (aí também há psicoterrorismo). Nestes ambientes, as fronteiras tendem a esbater-se e vale tudo. São variados os estudos que apontam para o esbatimento das fronteiras como o maior factor de stress.

Como no Seringetti, os mais frágeis são a presa ideal.

Como fazer para não ser vítima de intimidação e simultaneamente melhorar o desempenho profissional?

 

A Resiliência  (Clara Pracana) 

resiliência é a capacidade de enfrentar condições adversas com coragem e determinação e ser capaz de transformar um problema numa oportunidade.

resiliência é uma capacidade que se pode desenvolver - como, é uma das questões que mais vêm à baila no decorrer do aconselhamento profissional. Temos de aprender a ser resilientes para que a força não nos falte nas fases menos propícias. Capacidade egóica por excelência, remete também para a construção do self e da identidade da pessoa. Um self forte, coeso, construído por acumulação de experiências gratificantes ou, pelo menos, que garantiram a aprendizagem com o erro, é meio caminho andado para se ser resiliente. É uma capacidade invejável mas que, repito, se pode adquirir ou melhorar. 

Mas ser resiliente não é fazer como a avestruz e resistir à transformação e, por essa via, resistir a melhorar o desempenho. Tenho notado que há quem confunda melhorar o desempenho com "fazer a vontade" aos chefes. Donde terá nascido esta confusão, não sei dizer (embora a história sindical dê pistas para uma explicação), mas o que verifico é que ela é frequente e perniciosa. O primeiro que fica a perder é o trabalhador. A melhoria do desempenho, um aspecto fundamental do trabalho de qualquer pessoa, é algo de desejável porque também nos traz satisfação. É importante que retiremos prazer do que façamos, e possamos ser criativos. O trabalho, que nos ocupa tantas horas por dia, não pode ser uma fonte constante de desprazer e de mal-estar, sob pena de ficarmos psicologicamente enfraquecidos e mesmo deprimidos. 

É preciso perceber que as relações laborais não são um jogo de soma zero. Ou seja, não há um que ganha e outro que perde. A satisfação com um trabalho bem feito é importante para a construção da nossa identidade (e auto-imagem) e contribui também para o melhor desempenho da empresa, devido ao aumento da produtividade e da competitividade. O melhor desempenho das empresas é assunto que não diz respeito apenas ao donos das empresas, mas a todos nós. O emprego é já algo escasso e o problema não é apenas local, é global. No caso do nosso país, a situação é duplamente grave, porque se junta à crise internacional um péssimo índice de competitividade que é já estrutural. 

O que acabei de escrever poderá não se aplicar ao funcionalismo público ou seja, a todos aqueles que não trabalham para empresas a atuar no mercado, mas para o Estado. Coisa curiosa, os conflitos laborais não são nesse caso menores, nem o mal-estar das pessoas. Já pensaram por que será?

Tânia Paias

Psicóloga Clínica
Pós-graduada em Neuropsicologia
Mestre em Saúde Escolar
Doutoranda em Ciências Forenses
Investigadora na área do Bullying - participação em Projecto Internacional
Psicoterapeuta – EMDR
Directora do PortalBullying

Clara Pracana

Doutorada em Psicologia
Mestre em Psicologia Clínica e Psicopatologia
Membro Titular do ramos de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica da Associação Portuguesa de Psicanalise e Psicoterapia Psicanalítica
Sócia da Sociedade Portuguesa de Psicanálise
Psicoterapeuta - Psicoterapia Psicanalítica
Consultora - larga experiência em gestão de empresas