A Psicanálise, a par da Hipnose, foram as psicoterapias que trouxeram a noção de inconsciente para a praça pública e para o campo da ciência. É uma noção desafiante e difícil de se compreender. No entanto, também a doença o é: desafia muitas vezes a compreensão e a lógica a que estamos acostumados. Pode dizer-se que, em certa medida, a doença é a marca da irracionalidade, ou seja, do que não faz sentido, do que não é coerente com o resto. Na doença existe muitas vezes a consciência de que o que se sente, pensa ou se faz, não faz sentido nem tem razão de ser; no entanto, não se consegue evitar. É justamente nestes casos que a noção de inconsciente nos ajuda a compreender a estranheza de determinado comportamento ou sintoma: o inconsciente é a expressão implícita da necessidade de divisão interna, ou seja, da falta de coesão e integração da informação no nosso cérebro. A questão pode assim ser vista, não como uma falta de lógica, mas como a existência de lógicas plurais dissociadas e, por isso, conflituais.
O que leva então a mente a criar lógicas dispares dissociadas? A resposta a esta pergunta está, em parte, na dificuldade em "atualizar" ou modificar aprendizagens (lógicas; padrões de relação...) que foram enraizados/gravados profundamente no nosso cérebro emocional (o chamado cérebro reptiliano - porque automatizado e partilhado com outros animais como os repteis). Por outro lado, o inconsciente representa igualmente o conteúdo mental (pulsional, emocional) reprimido, ou seja, não tolerado ou admitido na nossa educação. Nestes casos, o que fazemos acaba por ser a interiorização dessa mesma censura, empurrando desejos ou sentimentos criticados para fora da consciência - uma forma de auto-engano, responsável pela produção de sintomas psicopatológicos.
A técnica e arte da psicoterapia consiste, pois, em aceder a essas memórias isoladas e ostracizadas para, de seguida, as poder trabalhar no sentido de lhes voltar a dar expressão, de as compreender e integrar no todo mental.