Afastar a consciência do sofrimento e a recusa da ajuda

Diogo Gonçalves

Por vezes há problemas dos quais nem sempre temos consciência, mas que acabam por surgir em determinadas situações, como por exemplo sob stress ou nas relações amorosas. Desenvolvemos algumas vezes grandes capacidades de autossuficiência em torno desses problemas e acreditamos que podemos perfeitamente tomar cuidar de nós e prescindir de um outro exterior que desempenhe esse papel para connosco. Apesar de sermos muito capazes de lidar com as responsabilidades do dia-a-dia, e mesmo de atingir o sucesso, o mal estar está lá... Como se não conseguíssemos descansar verdadeiramente.Lado a lado com a autossuficiência e competência, e independentemente de a grande rede de amizades que possamos ter ou pensar ter, temos por vezes muito pouca experiência de nos entregarmos verdadeiramente aos outros. Assim, fica também interdita a experiência da verdadeira intimidade e cumplicidade, que nos preenchem genuinamente. Assim, permanecemos sós, trancados em nós mesmos, sem conseguirmos esse tão almejado descanso. Porque é apenas na entrega genuína que conseguimos crescer, integrar-nos e amadurecer.Podemos ainda procurar ajuda e conselhos de amigos, mas sentimos que de nada servem, e ás vezes acabamos mesmo por sentir que estamos a incomodar ou que os outros se frustram e perdem a paciência connosco. Por vezes procuramos a ajuda do psicólogo para nos apoiarmos nele e reforçar um "Eu-prótese", autossuficiente, precisamente para não fazermos um processo de verdadeira entrega. Como por exemplo a procura do psicólogo no intuito de receber soluções ou respostas "faça você mesmo". Muitas vezes a resposta é mesmo a psicoterapia, mas num primeiro momento falta a capacidade de entrega, e o sentimento que surge no pessoa é o de não estar a conseguir (receber) nada da psicoterapia. Porque na verdade, o paciente não pode (não consegue) ainda receber... Ainda que precise e o queira desesperadamente. Por vezes a dor e o sofrimento emocional e mental está profundamente inacessível, por debaixo de um "Eu-de-cobertura" que precisa num primeiro momento ser devidamente consciencializado e trabalhado. Lá por detrás está muitas vezes um "Eu" profundamente fragilizado, repleto de sentimentos de incapacidade, inutilidade e incompetência, que precisa ser entendido, cuidado, reparado e ajudado a desenvolver-se.