Se há palavras que todos nós, independentemente da profissão, ouvimos todos os dias são estas duas: stress e mudança.
É o escritório que vai mudar de instalações para um local mais barato fora de Lisboa (e agora que vou ter de levar o carro, onde é que arranjo lugar quando voltar ao fim do dia? Vão ser as intermináveis voltas ao quarteirão…).
É a empresa que foi comprada pelos espanhóis (e consta que vão despedir pessoas, porque alguns serviços continuam em Madrid). É a filha que não acerta no curso (agora quer ir estudar cinema! E onde é que ela depois vai arranjar emprego?).
É o marido a quem fizeram uma proposta de rescisão de contrato de trabalho (tem 48 anos, o que ele é ele vai fazer em casa?).
É a mulher que sente chegar a menopausa e os horríveis afrontamentos (o meu corpo está a mudar, já não o entendo e estou a engordar. Tenho de ir para o ginásio).
É o homem na casa dos cinquenta que se inquieta com algumas dificuldades na erecção (e agora? E eu que estava a pensar fazer uma aproximação aquela rapariga das relações públicas, que é gira que se farta. E se depois não me aguento? Já me falaram no Viagra…).
É a mulher a quem o marido subitamente anuncia a decisão de se divorciar (depois de vinte anos de casados, assim de repente? Agora que já estou a ficar velha para arranjar outro… Ele diz que temos feitios incompatíveis, interesses diferentes, mas só agora é que descobriu? Já me disseram que há outra, embora ele negue, claro).
É o executivo bem sucedido que de repente se vê confrontado com a “escolha” – que não pode recusar – de ter de ir trabalhar para um país estrangeiro (e que faço eu aos miúdos? E a Luísa? Agora que foi promovida, não vai com certeza querer ir).
É o engenheiro que marca passo na empresa (dizem que eu sou conflituoso e que não me quero adaptar às novas tecnologias. Mas onde é que eu vou arranjar tempo para estudar se passo a minha vida a evitar que me façam a cama lá no emprego? E também já não tenho cabeça para aprender coisas novas. Ainda por cima está sempre tudo a mudar…).
É a mulher cuja mãe, viúva e com oitenta anos, começa a ter dificuldades de locomoção (e agora? Como é que a levo lá para casa? O Rui nunca se deu bem com ela. Ia ser um inferno. Mas não posso deixá-la morrer sozinha. Ainda acabo divorciada à pala disto).
É a mulher de cinquenta anos, com sucessivas depressões, que vê os filhos saírem de casa (e agora, que faço eu? O Manel diz que eu devia trabalhar, para me entreter. Mas fazer o quê? Nunca trabalhei, a não ser durante uns meses como secretária antes de me casar. Ele nunca quis que eu trabalhasse. Que vou eu fazer da minha vida? Ninguém quer saber de mim. Muito menos o Manel, que só pensa no trabalho).
Estes são apenas exemplos das nossas perplexidades como homens e mulheres. No fundo, tudo gira à volta da incerteza e da dificuldade que temos em lidar com ela. A incerteza é sempre geradora de ansiedade, quando não mesmo de dor psíquica. O ser humano prefere em geral o familiar, o conhecido, mesmo que não se sinta satisfeito com a vida que leva. Até há quem diga que o stress mata. Ou que engorda. Ou que emagrece. Ou que envelhece, faz rugas, dá um ar pesado. Centenas, milhares de artigos se escrevem todas as semanas sobre o assunto, por esse mundo fora. No fundo, todos nós gostaríamos de ter mais controlo sobre as nossas vidas. Mas como consegui-lo se, precisamente, as coisas surgem quando menos esperamos?
A psicoterapia não é uma panaceia para os males da alma, ansiedade incluída. Mas que ajuda, ajuda. Pode, se for bem sucedida, tornar o sofrimento mais tolerável, permitir encontrar pequenos (ou grandes) prazeres, ajudar a percebermos melhor a nós próprios e aos outros, aumentar a nossa iniciativa e autonomia e a nossa capacidade de tomar um pouco mais a nossa vida nas nossas mãos.
(Nota: qualquer semelhança entre os exemplos descritos e a realidade é pura coincidência)