Muitos dos meus pacientes sentem-se desiludidos no início das suas psicoterapias e, por vezes, até aborrecidos pela longa duração do tratamento. A maioria das psicoterapias implica um trabalho continuado, com uma ou duas sessões por semana, durante vários anos (habitualmente entre 3 a 5 anos). As psicoterapias psicanalíticas são “tratamentos” que visam a modificação da personalidade em profundidade e isso não se consegue em meia dúzia de sessões nem existem palavras mágicas que possamos ensinar aos nossos pacientes, para que eles rapidamente fiquem bem. Fazer uma psicoterapia psicanalítica em profundidade é um trabalho duro que implica um compromisso sério durante muito tempo.
A velocidade da vida actual torna muito difícil compreender a necessidade de uma relação tão longa e intensa. Muitos dos meus pacientes dizem-me que sou a pessoa que melhor os conhece. Por vezes a psicoterapia dura mais do que o casamento deles e, muito frequentemente, observo o início e o fim de várias relações amorosas.
Estar em psicoterapia é sabermos que temos alguém que nos escuta e que, num certo sentido, vive connosco a nossa vida. É sentirmos que aquilo que somos constitui uma descoberta permanente e que as transformações que sofremos são subtis e que em cada mudança nos aproximamos mais daquilo que verdadeiramente somos. O psicoterapeuta não pretende “moldar” o paciente ou fazê-lo ficar desta ou daquela maneira. Simplesmente está lá, para ouvir, apoiar, estimular o questionamento e ajudar a pessoa a perceber aquilo que ela própria não consegue entender sozinha.
A personalidade muda e a psicopatologia fica atenuada ou desaparece porque esta “nova relação” funciona como um outro olhar que a pessoa tem sobre si própria, um olhar desprovido de censuras, desejos e preconceitos. Lentamente a pessoa abre-se e restaura-se, sarando as suas feridas e procurando novos pontos de apoio para edificar uma “nova” personalidade.
O grau de confiança e, num certo sentido, de intimidade que se gera entre um psicoterapeuta e o seu paciente só pode ser conquistado com tempo e paciência. Para sermos capazes de comunicar o que há de mais privado e profundo em nós temos que confiar muitíssimo no outro, o que demora muito e muito tempo. Precisamos de ter a garantia de que o psicoterapeuta não vai “mesmo” censurar-nos, diminuir-nos, explorar-nos, humilharmo-nos, etc. Só depois de um bom tempo em psicoterapia é que nos “instalamos” verdadeiramente nela.